10/12/2010

A Beneficência de Deus é Abnegada - Jonathan Edwards


O amor-próprio de Deus não pode ser egoisticamente restrito, pois a criação como um todo é uma expressão de Deus


Porém, a respeito do Ser Divino, não existe nele qualquer egoísmo restrito nem amor-próprio contrário à benevolência geral. Trata-se de algo impossível, pois Deus compreende toda a existência e excelência na sua essência. O Ser eterno e infinito é, com efeito, o ser em geral e abarca a existência universal. Na sua benevolência para com suas criaturas, Deus não pode expandir o coração para incluir seres que são originalmente externos, distintos e independentes dele. Essa impossibilidade é contrária a um Ser infinito, o único que existe desde a eternidade. Porém, na sua bondade, ele se expande de modo mais excelente e divino. Essa expansão é feita por meio da sua comunicação e da sua difusão e, portanto, em vez de encontrar objetos para a sua benevolência, ele os cria - não tomando objetos que encontra e que são distintos dele, compartilhando com eles, desse modo, o seu bem e se alegrando neles, mas sim fluindo e expressando-se para eles, fazendo-os participar dele e, então, regozijando-se no fato de ser expresso neles e comunicado a eles.

A beneficência de Deus é abnegada, pois não é constrangida por nenhum elemento exterior

Ao fazer o bem a outrem por amor-próprio, tiramos o mérito do desprendimento da benevolência, pois realizamos um ato em razão da dependência dos outros para receber o bem que precisamos ou desejamos. Assim, na nossa beneficência, não somos motivados voluntariamente, mas sim como que constrangidos por algo de fora de nós. No entanto, demonstramos de modo bastante específico que o fato de Deus fazer de si mesmo o seu fim não é argumento a favor de sua dependência; antes, é coerente com a sua absoluta independência e auto-suficiência.

Convém observar a existência de algo nessa disposição de comunicar bondade que mostra como Deus é
independente e automotivado de modo peculiar e superior à beneficência das criaturas. Até mesmo as criaturas mais excelentes não são independentes nem automotivadas em sua bondade; antes, em todos os seus exercícios, são impelidas por algum objeto que encontram; algo que lhes parece bom ou, em algum sentido, digno de deferência surge e estimula sua bondade. Mas Deus sendo tudo e sendo único, é absolutamente automotivado. Os exercícios da sua disposição comunicadora são absolutamente originários dele mesmo; tudo o que é digno e bom no objeto e no seu ser é proveniente do transbordamento da plenitude divina.

Logo, não temos menos obrigação de ser gratos a Deus, ainda que a sua beneficência seja para a própria glória

Essas coisas mostram que a suposição de que Deus faz de si mesmo o seu fim supremo não diminui a obrigação da criatura de ser grata pela comunicação do bem recebido. Porquanto, uma diminuição dessa obrigação só poderia ser justificada por um dos seguintes motivos: a criatura não é tão beneficiada por essa comunicação; ou a disposição da qual ela flui não é, de fato, bondade e, portanto, não se mostra tão diretamente inclinada para o benefício da criatura; ou essa disposição não é, em si mesma, tão virtuosa e excelente; ou essa beneficência não é tão desinteressada. No entanto, foi observado que nenhuma dessas coisas é verdadeira a respeito da disposição em questão e que, supostamente, estimulou Deus a criar o mundo.

Por fim, a revelação é o guia mais confiável

Confesso que há certo grau de indistinção e obscuridade na consideração final desses assuntos e uma grande imperfeição nas expressões que empregamos para referir-nos a eles, resultantes, inevitavelmente, da sublimidade infinita do assunto e da incompreensibilidade das coisas que são divinas. Assim, a revelação é o guia mais confiável nessas questões, de modo que consideraremos a seguir o que ela ensina. No entanto, os esforços empregados para descobrir o que vem a ser a voz da razão até onde esta pode ser determinada talvez sirvam para preparar o caminho para evitar certos sofismas nos quais muitas pessoas insistem e também nos satisfazer com a constatação de que as asserções da Palavra de Deus a respeito desse assunto não são irracionais.

Fonte: Jonathan Edwards

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