25/03/2009

O surdo e a teologia fenomenológica.



                                                           por Adoniran Melo

O pensamento teológico se define a partir de fenômenos experimentados no cotidiano, que possibilitam bases para diversas interpretações sobre a multiplicidade dos noemas (essências ou significações) humanos acerca de Deus, porém um me chama muito a atenção, o pensamento teológico na perspectiva de um individuo surdo, que chamarei aqui de pensamento surdo-teologico, que se define a partir da maneira empírica de vivência que o surdo tem sua leitura cosmológica, vem mediante as imagens ou gestos que ele lê e interpreta em seu universo silencioso e visual, seus olhos tem um papel preponderante para a construção de seus conceitos e percepções do universo que o cerca.
Quero esclarecer que me refiro ao individuo como surdo, para prefigurar aquele que luta por sua cultura e maneiras dinâmicas de comunicação, então não se assemelha em nada ao individuo deficiente auditivo, mas em parte ao implantado e o oralizado, pois o surdo tem uma língua gesto-visual de caráter interpretativo a partir da experiência visual, então me impulsiono a refletir sobre a capacidade de noesis (atos intencionais da consciência )do abstrato. Como isso se processa pelo surdo?
Suas bases de interpretações do ser de Deus (ani hú, EU SOU) vem de suas interpretações dos fenômenos vividos com o seu ser (ani wehu, eu e Ele ), não é difícil um surdo crer em um Deus que não ouve, ou seja, um Deus surdo, não quero ser mal interpretado, mas não me refiro a um entendimento ouvintista,  pois os conceitos do individuo surdo sobre surdez não se assemelham aos nossos, nem tomo como base a ontologia, pois suas tentativas de definir o ser de Deus são altamente limitadas e ficam no campo da subjetividade.
 Para nós uma pessoa surda é aquela que é desprovida do sentido da audição, e os estigmatizamos como deficientes no sentido mais esdrúxulo da palavra, mas a concepção de Deus pode ser vista como um Deus que vê tudo que o cerca e se manifesta, e que ouve através dos olhos como as pessoas ouvem no seu contexto de gesto- comunicação, ou seja a fé vem pelo o ouvir (ver na aplicabilidade surdo-teologica da palavra) e a experimentação do abstrato vem por meio de suas experiências concretas, pois entendemos que Deus se revela através de sua criação. 
Chego então à conclusão que é a partir de uma cosmo visão de cunho fenomenológico, que o individuo surdo tem sua fé no Deus altíssimo fazendo uso de ideias teológicas que caminham pelo campo do modalismo teológico.


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